domingo, 18 de dezembro de 2011

ZOOLOGIA: O GATO




ZOOLOGIA: O GATO

Um gato, em casa, sozinho, sobe
à janela para que, da rua, o
vejam.

O sol bate nos vidros e
aquece o gato que, imóvel,
parece um objecto.

Fica assim para que o
invejem - indiferente
mesmo que o chamem.

Por não sei que privilégio,
os gatos conhecem
a eternidade.


Nuno Júdice- Portugal


*****

ZOOLOGÍA: EL GATO

Un gato, en casa, solitario, sube
a la ventana para que, de la calle
lo vean.

El sol pega en el vidrio
y calienta al gato que, inmóvil
parece un objeto.

Se queda así para que
Lo envidien indiferente
aunque lo llamen.

Por no se qué privilegio,
los gatos conocen
la eternidad.


Nuno Júdice- Portugal

Traducción al español: Nidia Hernández

SUMIDOURO




SUMIDOURO

Ao redor do quarto
migra um cortejo de aves. Não vemos
pois estamos fechados.

Ao redor do quarto
um barco repousa em um mar sem ondas. Não vemos
pois estamos partindo.

Ao redor do quarto
baleias abertas e peixes mortos cobrem a angra. Não vemos
pois estamos sangrando.

Porque estamos sozinhos não vemos
suicidas engolfados nas brânquias tóxicas
dos cardumes. Não vemos

a morte solitária dos corais. Não vemos
a embarcação vazia permanecer
no silêncio das águas. Não vemos:

pois estamos no escuro.


Maiara Gouveia- Brasil



*****


SUMIDERO

Alrededor del cuarto
Migra un cortejo de aves. No vemos
porque estamos encerrados.

Alrededor del cuarto
un barco reposa en un mar sin olas. No vemos
porque estamos partiendo.

Alrededor del cuarto
ballenas abiertas y peces muertos cubren la ensenada. No vemos
porque estamos sangrando.

Porque estamos solos no vemos
suicidas engolfados en las branquias tóxicas
de los bancos de peces. No vemos

la solitaria muerte de los corales. No vemos
la vacía embarcación permanecer
en el silencio del agua. No vemos:

porque estamos en la oscuridad.


Maiara Gouveia- Brasil

AMOR SOLAR




AMOR SOLAR

Cansado dos homens afasto as nuvens
Em busca de uma árvore onde eu possa
Beber em paz e em paz
Construir o meu ninho. Ali
No tronco mais silencioso da grande casa
Não sou cidadão de país nenhum
Pai de nenhuma família
Sou apenas o cão mais humilde
Do mundo que há para além do mundo
Onde se medem ao milímetro
O bem e o mal. Nesse pátio
já não estou afastei-me
Quando perdi o sentido do peso
E das medidas - quando alguém me disse
e eu vi
Que numa gota de vinho há dez mil anos
De amor solar.


Casimiro de Brito- Portugal


*****

AMOR SOLAR

Cansado de los hombres aparto las nubes
En busca de un árbol donde pueda
Beber en paz y en paz
Construir mi nido. Ahí
En el tronco más silencioso de la gran casa
No soy ciudadano de ningún país
Padre de ninguna familia
Soy apenas el perro más humilde
Del mundo que hay más allá del mundo
Donde se miden milimétricamente
El bien y el mal. En ese patio
Ya no estoy, me aparté
Cuando perdí el sentido del peso
Y de las medidas cuando alguien me dijo
Y yo lo vi.
Que en una gota de vino hay diez mil años
De amor solar.


Casimiro de Brito- Portugal
Traducción al español: Nidia Hernández

SAUDADE




SAUDADE

Uma rede de pirilampos
ilumina de verde fósforo
o ar que passa pela janela

Há um espelho atirado na paisagem

Reflecte tres luas com colares de pérolas
encadeadas no coaxar das rãs

No umbral do meu sonho
desejo roubar o favo das abelhas
e encher a minha boca de mel
que me faz recordar-te

O pálido dia
se ruboriza de repente

Recorda o murmúrio do gozo
impregnado nas paredes
do nosso arcaico encerro

O miserere de um rosário de palavras
foge pela janela

Filtra-se pelas frestas
entre o telhado dos tetos
alinhavando-se à luz
que irrompe gulosa
nos campos
de tulipas

O canto culmina
sua fuga na ponte
do umbral do sonho

Desperto e estou junto a ti

Não te foste





Leticia Garriga- México

Tradução ao português: Tania Alegría





*****

TE EXTRAÑO

Una red de luciérnagas
ilumina de verde fósforo
el aire que pasa por la ventana

Hay un espejo tirado en el paisaje
Refleja tres lunas con collares de perlas
engarzadas con el croar de las ranas

En el umbral de mi sueño
deseo robar el panal de abejas
y llenar mi boca de miel
que te recuerda

El pálido día
se sonroja de pronto

Recuerda el murmullo del gozo
impregnado en las paredes
de nuestro arcaico encierro

El miserere de un rosario de palabras
huye por la ventana

Se filtra por las rendijas
entre el tejado de los techos
hilvanándose a la luz
que irrumpe golosa
en los campos
de tulipanes

El canto culmina
su huída en el puente
del umbral del sueño

Despierto y estoy junto a ti

¡No te has ido





Leticia Garriga- México

NASCIMENTO ÚLTIMO




NASCIMENTO ÚLTIMO

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.


António Ramos Rosa- Portugal
No Calcanhar do Vento - 1987
in Antologia Poética





*****

NACIMIENTO ÚLTIMO

Como si no tuviera sustancia y con los miembros apagados.
Desearía enrollarme en una hoja y dormir en la sombra.
Y germinar en el sueño, germinar en el árbol.
Todo acabaría en la noche, lentamente, bajo la lluvia densa.
Todo acabaría por el más alto deseo en una sonrisa de nada.
En el encuentro y en el abandono, en la última desnudez,
respiraría al ritmo del viento, en la relación más viva.
Sería de nuevo el germen que fui, el rostro indivisible.
Y ebrias las palabras dirían el vino y la arcilla
y el reposo de ser en el ser, sus oscuras terrazas.
Entre rumores y ríos la muerte se perdería.





António Ramos Rosa- Portugal

Traducción al español: Nidia Hernández

ODE POSTERIOR À ÚLTIMA ODE




DE POSTERIOR À ÚLTIMA ODE

Já ressoam os sinos. Olha como eles soam.
Já ressoam os sinos. Escuta como soam.
Já ressoam os sinos.
Ressoa, como soam os mortos quando tocam.
Já ressoam os sinos grossas gotas de sangue no silêncio.
Já ressoam nas torres os gavïões de morte nas esquinas.
Já ressoam no negro outras gotas de sangue mais escuro.
Já ressoam os sinos. Chora-os como soam.
Já ressoam os sinos. Risca-os como soam.
Já ressoam os sinos. Cheira-os como soam.
Já ressoam os sinos. Mata-os quando soam.
E se cheiram a versos. Canta-os quando soam.
Já soam como a carne de Federico morta.
Lacrimejos de amor derramam esses sinos som a som.
Lacrimejos de fúria atravessam os céus já inundados.
Esteiras de pesar cruzam o corpo amargo dos navios.
Os delfins incendiados abrem luta na tarde e içam luas.
Toc.Toc. Geme o metal enlouquecido.
Din dan don, a lua se estilhaça.
Cling. Cling. Acompanham os vidros do desgosto.
Shi. Shi. Shiiiii...
A ulular os corvos da desgraça desenham negras armas.
E se abrem as janelas,
quase se partem em dois os portões grandes das vivendas.
A terra se abre em gretas e em sua vulva se levantam as flores da discórdia.
Federico morreu. Parte correndo a voz, cega cascata.
Federico morreu. Federico García, aquele poeta.
Federico, o donzelo,
o que tocava alegre aquele piano,
o do sorriso branco, o da voz de luar, o dos humildes.
Federico morreu, o Federico, sim, sim, o director de "A Barraca".
Mataram-no? Por quê? Por quêê? Por quêêê?
Por que mataram vivamente o Federico?
Lhe atravessaram negras as almas do fusil.
Pam. Pam. Pampampampam, as almas fúteis
desenharam triângulos no ar.
Federico morreu. Morreu o senhorito Don Federico García?
Esse dos versos tristes?
Por que foi que mataram Federico? E por que se assassina a um poeta?
e por que os romances devem cheirar a pólvora?
Não, não, não, e secamente não. Federico está vivo
Escutei sua voz sob o luar.
Esta manhã o rio vai cantando. Estáaa vivoooo o poetaaaa.
E repete, seus versoooos estãããão vivooooos.
E agrega em redemoinho: estáaaa vivaaaa suaaaa mããão
e cresceeeeram saramagos de mel entre os seus dedos.
Federico morreu (ficou soando a voz nalguma esquina)
e passa o vento e com a voz duplica outra voz
e deixa-a cair pelas varandas.
Está vivo o poeta piiiiiiii, deslizam verdes
pássaros azuis.
Está vivo o poeta, grrrr grrrr. smffff vai cantando o inverno,
e em suas folhas vai alinhavando dezembro
e logo cose as costuras de frio nas suas costas.
Está vivo, don Federico García está mais vivo que você e a galinha,
afirma un granadense a outro granadense que desmente.
Não pode ser, não pode ser, não pode ser.
Diz a dona Assunção, enquanto vai benzendo-se.
Federico à uma. Federico às duas. Federico às tres,
responde se és poeta:
Estás vivo ou estás vivamente morto?
Ou estás morto ou estás mortamente vivo?
E Federico ri, ha, ha, ha, através das barbas de D. Perlimplín,
que deixou crescer barba, para dissimular os cornos.
E Federico chora, bua, bua, bua, com lágrimas de Yerma
e maldiz a existência, resseca nas entranhas.
E Federico ruge, tão forte que Bernarda, tapa-se os dois ouvidos.
E Federico trota e é um cavalo alegre Federico.
E Federico, pam, tac, plum, martela os sapatos da noite
com prata nas esporas.

Dona Rosita chora. E Mariana o procura através das nuvens
e a lua se oculta, muda assim o futuro dos noivos que fugiram.
Federico morreu. Não é verdade, eu vi-o.
Federico morreu. Não é verdade. São seus versos.
Federico morreu. Federico morreu. Federico morreu.
Vai-te, vai-te- vaaaaaaaaai-te com a pena a outra parte.
Às cinco da tarde nós o vimos passar
com un lindo donzelo vestido de toureiro.
Ia clamando forte:

Se o ar sopra brandamente
meu coração tem a forma de uma jovem.
Se o ar se nega a sair das taquareiras
meu coração tem a forma de uma milenária bosta de touro.

Às oito horas da tarde,
mua, mua, mua, mua, a lua agora está beijando Federico.


Dolors Alberola- Espanha
Tradução ao português: Tania Alegria


*****

ODA POSTERIOR A LA ÚLTIMA ODA

Ya tocan las campanas. Míralas como tocan.
Ya tocan las campanas. Óyelas como tocan.
Ya tocan las campanas.
Tócalas, como tocan los muertos las campanas.
Ya tocan las campanas goterones de sangre en el silencio.
Ya tocan torreones gavilanes de muerte en las esquinas.
Ya tocan en lo negro otras gotas de sangre más oscura.
Ya tocan las campanas. Llóralas como tocan.
Ya tocan las campanas. Bórralas como tocan.
Ya tocan las campanas. Huélelas como tocan.
Y si huelen a muerte. Mátalas cuando tocan.
Y si huelen a versos. Cántalas cuando tocan.
Ya tocan a la carne de Federico muerta.
Lagrimones de amor derraman las campanas, toque a toque.
Lagrimones de furia atraviesan los cielos inundados.
Estelas de dolor cruzan el cuerpo amargo de los barcos.
Delfines incendiados abren lucha en la tarde e izan lunas.
Toc. Toc. Gime el metal enloquecido.
Din dan don, la luna resquebraja.
Cling. Cling. Acompañan los vidrios de la pena.
Shi. Shi. Shiiiiii...
Ululando los cuervos de la muerte dibujan negras armas.
Se abren las ventanas,
casi se parten en dos los portalones de las casas.
La tierra se agrieta y en su vulva se levanta la flor de la discordia.
Ha muerto Federico. Va corriendo la voz, ciega cascada.
Ha muerto Federico. Federico García, el poeta.
Federico, el doncel,
el que tocaba alegre aquel piano,
el de la risa blanca, el de la voz de luna, el de los pobres.
Ha muerto Federico, Federico, sí, sí, el director de La Barraca.
¿Le mataron? ¿Por qué, por quéé, por quééé... ?
¿Por qué mataron vivamente a Federico?
Le atravesaron negras las almas del fusil.
Pam. Pam. Pampampampam, las almas hueras
dibujaron triángulos en el aire.
Ha muerto Federico. ¿Ha muerto el Señorito Don Federico García?
¿El de los versos tristes?
¿Y por qué han matado a Federico? ¿Y por qué se asesina a un poeta?
¿y por qué los romances deben oler a pólvora?
No, no, no, y secamente no. Federico está vivo
He oído su voz bajo la luna.
Esta mañana el río va cantando: Estáaa vivoooo el
poetaaaa.
Y repite, sus versoooos estáaaan vivooooos.
Y agrega, a remolinos: estáaaaa vivaaaaa suuuu manoooo
y haan creciiiiido jaramaaagos de mieeeeel entre sus deeeedos.
Ha muerto Federico (ha dejado la voz en una esquina)
y pasa el viento y, con la voz, duplica otra voz
y la deja caer por los balcones.
Está vivo el poeta piiiiiiiiiiii, deslizan verdes
pájaros azules.
Está vivo el poeta, grrrrr grrrr . smfffff va cantando el invierno,
y de sus hojas va enhebrando diciembre
y luego cose costurones de frío en sus espaldas.
Está vivo, don Federico García está más vivo que usted y la gallina,
agrega un granadino contra un granadino que desmiente.
No puede ser, no puede ser, no puede ser.
Dice Doña Asunción, mientras va santiguándose.
Federico, a la una. Federico, a las dos. Federico, a las tres,
responde si eres poeta:
¿Estás vivo o estás vivamente muerto?
¿O estás muerto o estás muertamente vivo?
Y Federico ríe, ja, ja, ja, a través de las barbas de Don Perlimplín,
que se ha dejado barba para disimular los cuernos.
Y Federico llora, bua, bua, bua, con lágrimas de Yerma
y maldice la vida, reseca en sus entrañas.
Y Federico ruge, tan fuerte que Bernarda se tapa los oídos.
Y Federico trota y es un caballo alegre Federico.
Y Federico, pam, tac, plum, martillea los zapatos de la noche
con plata en las espuelas.

Doña Rosita llora. Mariana le busca a través de las nubes
y la luna se oculta y cambia así el futuro de los novios que huyeron.
Ha muerto Federico. No es verdad. Yo le he visto.
Ha muerto Federico. No es verdad. Son sus versos.
Ha muerto Federico. Ha muerto Federico. Ha muerto Federicooo.
Lárgate, láargate, laaaaaaaárgate con la pena a otra parte.
A las cinco de la tarde lo hemos visto pasar
con un doncel hermoso vestido de torero.
Iba clamando fuerte:

Si el aire sopla blandamente
mi corazón tiene la forma de una niña.
Si el aire se niega a salir de los cañaverales
mi corazón tiene la forma de una milenaria boñiga de toro.

A las ocho de la tarde,
mua, mua, mua, ha besado la luna a Federico.


Dolors Alberola- España





*****

Nota: Los cuatro versos en cursiva que forman la penúltima estrofa del poema pertenecen a Federico García Lorca.

Vídeo de este poema. Voz y realización: Rosa Iglesias:
http://www.youtube.com/user/IreneRojo5#p/u/40/ylql90i6Ckc

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

NOSSAS TARDES DE FUMO




NOSSAS TARDES DE FUMO

Na penumbra resguardo nossas tardes de fumo,
na cidade sonâmbula do sonho, amante da roseira.

Recordo cada nome integrado em calçadas com murmúrios
aquele ar de crisálida, acocorado em grutas que habitar,
do outro lado dos sórdidos subúrbios.

A beleza da lua nas noites silenciosas parecia-nos cálida,
para seguir amando na sombra adormecida.

Os passeios notívagos com nuvens não conhecem o olvido,
e por isso a saudade é como um pássaro que procura as visões
envolvidas na chuva silenciosa com geada e imagens esfumadas.

As praças no seu pânico
oferecem-nos luz submergida em reflexos e aves migratórias.

A urbe é nossa cúmplice do tempo que não conhece a hora exata
apesar dos relógios combativos do universo fecundo.


Ana Muela Sopeña- Espanha
Tradução ao português: Tania Alegria




*****



NUESTRAS TARDES DE HUMO


En la penumbra guardo nuestras tardes de humo,
por la ciudad sonámbula del sueño, amante de la rosa.

Recuerdo cada nombre integrado en aceras con murmullos
y un aire de crisálida, agazapado en grutas que habitar,
más allá de los sórdidos suburbios.

La belleza de luna en las noches calladas nos resultaba cálida,
para seguir amando en la sombra dormida.

Los paseos noctámbulos con nubes no saben del olvido,
por eso la añoranza es como un pájaro que busca las visiones
envueltas en la lluvia silenciosa con escarcha e imágenes difusas.

Las plazas en su pánico
nos regalan la luz sumergida en reflejos y aves migratorias.

La urbe es nuestra cómplice del tiempo que no conoce la hora exacta
a pesar de los relojes combativos del universo fértil.


Ana Muela Sopeña- España

domingo, 11 de dezembro de 2011

EVANGELHO DE EXORCISMOS






EVANGELHO DE EXORCISMOS

Chegas com o carisma, o verbo, o signo
e o gesto amável de amputar as sombras.
Impenitente emerges de outro abismo,
desde um lugar sem nome em minha história.

Te esperava no pórtico de gritos
onde se desordenam as demoras
cifrando um evangelho de exorcismos
nestes rituais secretos da memória.

Chegas como quem não, como quem passa
e ao azar se detém e por acaso
se vê e se reconhece em meus espelhos.

Faz séculos que eu teço uma ramada
para enlear-te as horas nos meus braços
e enredar tua voz nos meus silêncios.


Tania Alegria- Brasil
Del libro "Memorial de Exorcismos", 2010






*****



EVANGELIO DE EXORCISMOS

Vienes con el carisma, el verbo, el signo
y el gesto amable de amputar las sombras.
Impenitente emerges de otro abismo,
desde un lugar sin nombre en mis historias.

Te esperaba en el pórtico de gritos
en donde desordeno las demoras
cifrando un evangelio de exorcismos
en mi ritual secreto de ser sola.

Vienes como quien no, como quien pasa
y al azar se detiene y al acaso
se ve y se reconoce en mis espejos.

Desde hace siglos tramo una enramada
para enredar tus horas en mis manos
y enmarañar tu voz en mis silencios.


Tania Alegria- Brasil


Del libro "Memorial de Exorcismos", 2010

NOSSA DESAPARECIDA




NOSSA DESAPARECIDA

Nossa desaparecida está atrás de umas paredes pintadas. Ela não sabe onde se esconde o sol e por que não cai a chuva. Parece um jogo essa desaparição, mas muito longa é a espera. Assim passam nossos dias dourados sem saber nada de nossas dores. Somos sem saber quem somos, na parte pintada dessas paredes impenetráveis. Vivemos com os sons conhecidos e nos alegramos pela imaginação. Olhamos, pensamos nestas paredes pintadas e ninguém pode derrubá-las. Os desenhos revivem temporariamente, parecendo que as paredes vão ceder. São desenhos de duendes nos seus trajes azuis que, ao parecer, não se inteiram de nada.



Andrei Langa- Moldávia
Tradução ao português: Tania Alegría


*****

Cea dispărută

Cea dispărută stă în umbra unor pereţi pictaţi. Ea nu ştie unde se ascunde soarele şi de ce nu cad picăturile de ploaie. Pare un simplu joc această despărţire, însă prea lungă este aşteptarea. Aşa trec zilele noastre dorite, impasibile la toate durerile. Suntem făr-să ştim cine suntem, dincolo de partea pictată a pereţilor impenetrabili. Trăim cu sunete arhicunoscute şi ne delectăm de la imaginaţie. Privim, gândim la pereţii pictaţi, dar nimeni nu e în stare să-i demoleze. Desenele prind viaţă uneori, pereţii dănd semne că vor să cedeze. Sunt gnomi îmbrăcaţi în veşminte albastre, care par să nu bănuiască nimic.


Andrei Langa- Republica Moldova


*****

NUESTRA DESAPARECIDA

Nuestra desaparecida esta detrás de unas paredes pintadas. Ella no sabe dónde se esconde el sol y por qué no cae la lluvia. Parece un juego esta desaparición, pero muy larga es la espera. Así se pasan nuestros días dorados sin saber nada de nuestros dolores. Somos sin saber quiénes somos, en la parte pintada de estas paredes impenetrables. Vivimos con los sonidos conocidos y nos alegramos de la imaginación. Miramos, pensamos en estas paredes pintadas y nadie puede derrumbarlas. Los dibujos reviven temporalmente, pareciendo que las paredes van a ceder. Son dibujos de trasgos en sus trajes azules que, al parecer, no se enteran de nada.


Andrei Langa- Moldavia

Traducción al español: Andrei Langa

PARAÍSO DO SILÊNCIO






PARAÍSO DO SILÊNCIO

Já tenho o meu jardim,
lá onde o corpo deixou de sonhar a jaula pequena,
lá onde se agarram os olhos
à chispa de luz de mil oceanos estelares,
lá ao sul da arrogância
onde se apagam os mortos,
aqueles que não deixamos que recolham
nossa letra escrita a sangue.

E que é a flor sem seu talo nem folha?
Que é a flor sem sua corola e pistilo?

Já nada em absoluto
sustém o invisível desta terra escura
assim, caminhamos o tempo do mesmo.
Eu, existo,
trepando folhas escuras
na terra de ninguém,
depois pulverizo a estrela
que escreveu há tantos séculos um nome.

Qual o fim da chama afogada da minha letra?
Somo ao infinito minha cicatriz profunda, deixo-a ser.

Fugitiva, como corola ao ar
que não sabe cantar seus lamentos,
porque a engravidaram de tédio ao rocio,
quando a linha pura arde,
o pedaço de tempo arde,
o homem oprimido arde,
e a boca que espera uns lábios em flor
não encontra seu noturno neste inferno.

Um extravío entre os ossos ao matutino
se cinge e aguarda a cintura do vento.

A cerimônia do dia
na sua rotina de diminuto relógio,
lá, no paraíso do silêncio.
Eu, flor e semente de holocaustos,
eu, esqueleto solitário,
eu, ave migratória.
Me declaro canto selvagem,
raíz nua procriando em infinitos.


Rossana Arellano- Chile
Tradução ao português: Tania Alegria


*****



PARAÍSO DEL SILENCIO

Ya tengo mi jardín,
allá donde el cuerpo dejó de soñar la jaula pequeña,
allá donde se agarran los ojos
a la chispa de luz de mil océanos estelares,
allá al sur de la arrogancia
donde se borran los muertos,
aquéllos que no dejamos recojan
nuestra letra escrita a sangre.

¿Y qué es la flor sin su tallo ni hoja?
¿Qué es la flor sin su corola y pistilo?

Ya nada en absoluto
sostiene el invisible de esta tierra oscura
así, caminamos el tiempo de lo mismo.
Yo, existo,
trepando hojas oscuras
en la tierra de nadie,
luego pulverizo la estrella
que escribió hace tantos siglos un nombre

¿A qué fin la llama ahogada de mi letra?
Sumo al infinito mi cicatriz profunda, la dejo ser.

Fugitiva, como corola al aire
que no sabe cantar sus lamentos,
porque le preñaron hastío al rocío,
cuando la línea pura, arde
el trozo de tiempo, arde
el hombre oprimido, arde
y la boca que espera unos labios en flor
no halla su nocturno en este infierno.

Un desgarro entre los huesos al matutino
se ciñe y aguarda a la cintura del viento.

La ceremonia del día
en su rutina de diminuto reloj,
allá, en el paraíso del silencio.
Yo, flor y semilla de holocaustos
Yo, esqueleto solitario
Yo, ave migratoria.
Me declaro canto salvaje,
raíz desnuda procreando en infinitos.


Rossana Arellano- Chile

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ADEUS




ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugenio de Andrade- Portugal


*****

ADIOS

Ya hemos gastado las palabras en la calle, amor mío,
y lo que nos ha quedado no basta
para alejar el frío de cuatro paredes.
Lo hemos gastado todo salvo el silencio.
Hemos gastado los ojos con la sal de las lágrimas,
hemos gastado las manos a fuerza de apretárnoslas,
hemos gastado el reloj y las piedras de las esquinas
en esperas inútiles.

Meto las manos en los bolsillos y no me encuentro nada.
Antes teníamos tanto que darnos;
era como si todo fuese mío:
cuanto más te daba más tenía que darte.

A veces decías: tus ojos son unos peces verdes
y yo me lo creía.
Me lo creía
porque a tu lado
todas las cosas eran posibles.

Pero eso era en el tiempo de los secretos,
era en el tiempo en que tu cuerpo era un acuario,
era en el tiempo en que mis ojos
eran realmente peces verdes.
Hoy son sólo mis ojos.
Es poco, pero es la verdad,
unos ojos como los demás.

Ya hemos gastado las palabras.
Cuando ahora te digo amor mío,
ya no pasa absolutamente nada.
Y sin embargo, antes de gastarse las palabras,
estoy seguro de que todo se estremecía
sólo con murmurar tu nombre
en el silencio de mi corazón.

No tenemos ya nada para darnos.
Dentro de ti
no hay nada que me pida agua.
El pasado es inútil como un trapo.
Ya te lo he dicho: las palabras están gastadas.

Adiós.


Eugénio de Andrade- Portugal
Traducción: Ángel Crespo

Eugénio de Andrade en Los amantes sin dinero (1950), incluido en Antología poética 1940-1980(Editorial Plaza & Janés, Barcelona, 1981, versión de Ángel Crespo).





*****



Vídeo de este poema. Voz: Luís Gaspar

http://www.youtube.com/watch?v=3Qdqhn1NHsc&feature=related