sexta-feira, 29 de junho de 2012

ENTREVISTA A DOMINGO F. FAÍLDE


Sempre estamos acostumados a falar com os poetas de temas similares, pelo que hoje proponho perguntar a Domingo F. Faílde, poeta e crítico literário, alguns detalhes que tentam não reincidir no habitual:

- Três razões pelas quais nunca deveria ter escrito:

- Três ou três mil. A primeira: quem se arroja ao abismo da droga-adição converte-se em seu escravo. A segunda: navegar pelo magma da poesia é viajar ao inferno para ficar ali. A terceira: a quem os deuses querem perder, primeiro tornam-no louco, segundo dizem que disse Eurípedes. Em qualquer caso, como meu bom amigo Faelo Poullet, fico com aquela canção de Edith Piaf, non, je ne regrette rien, não me arrependo de nada.

- De que livro se arrepende mais, examinando toda a sua obra?

- Depois do que disse anteriormente, não posso arrepender-me de nenhum, mas não tenho inconveniente em assinalar o que menos me agrada: Cinco cantos a Himilce, apesar de que um grupo de teatro, Mamadou, fez com ele uma magnífica montagem cénica. Tenho a sensação de que esse livro me nasceu à traição e ainda continua me atraiçoando. Pior para ele…

- Conte-nos abertamente o principal motivo para apresentar-se a concurso e a maior dúvida a respeito.

- A ingenuidade congénita, de que alguns padecemos. Apresentar-se a um concurso era uma forma relativamente cómoda e rentável de conseguir a publicação de uma obra. Não negarei que sempre houve problemas – amiguismo, troca de favores –, mas, nesta última década, a corrupção do país e a aberrante substituição do conceito de cultura pelo de indústria cultural converteram prémios e concursos num espaço podre onde editores e agentes literários pugnam pelo financiamento de uma obra com fundos públicos – os primeiros – ou pela comissão correspondente – os segundos –, contando com a cumplicidade de jurados de confiança e outras práticas mafiosas. O caminho dos prémios está obstruído, salvatis salvandi. O maldito sistema capitalista pôs contra as cordas a literatura como tal.

- Valeu a pena nascer poeta?

-Eu formularia esta pergunta de outra maneira: valeu a pena nascer? Porque nascer poeta não é, no fundo, muito diferente de nascer cozinheiro ou agricultor, além da polémica sobre se alguém nasce ou se faz poeta. A vida é um absurdo e o universo um formoso – à vista desarmada – biscate. Venderam-nos a falsa ideia de um cosmos matemático e perfeito, mas sabemos que um pedregulho do tamanho de um parking pode acabar com a humanidade. Venderam-nos a ideia de uma vida sagrada e intocável, mas sabemos que os que predicam em nome de um suposto Criador são os primeiros a matar os dissidentes. E que sentido tem tudo isto? A vaga e improvável promessa de um prémio infantil e aborrecido? A ninguém ocorre criar uma coisa para logo, sem mais, destruí-la. O nada é o final e para isso bem poderíamos evitar-nos o esforço e o sofrimento de viver.

- Dou-lhe uma borracha para que sem nenhuma vergonha apague um escritor actual.

- Ao largo de meio século consagrado à literatura, também como crítico, jamais apaguei nenhum nome, ainda que haja criticado perfis concretos. Nunca tive madeira de inquisidor nem de comissário político: a estes sim, apagava-os sem contemplação, porque são nefastos, e faria o mesmo com os que se venderam e nos venderam ao poder, os escritores mediáticos, os oportunistas, os vira-casacas, os que constroem um búnquer com os direitos de autor, os manipuladores, os fanáticos, os que usam o sexo como moeda de câmbio Uma boa limpeza faria falta! O nome do opróbrio é o de menos.

- Fácil ou difícil mudar de sexo na palavra.

- Cada um tem o sexo com que nasceu ou o que quer ter. O homem – falo do ser humano, em toda sua extensão – é o único animal que pode eleger em consciência e inclusive enfrentar a natureza e ganhar a partida. Influi o sexo na literatura? Imagino que sim, mas influem sobretudo as condições materiais de existência derivadas da própria condição sexual. Dito isto como premissa, não escrevemos com a entreperna mas, no sentido mais amplo, com a inteligência.

- Similaridades que encontre entre um político e um poeta medíocre.

- Nenhuma, absolutamente nenhuma, a não ser que o poeta, além de medíocre, seja um perfeito sem-vergonha, um potencial ladrão, um indivíduo venal e carente de escrúpulos, disposto inclusive a chegar ao assassinato. Hoje em dia, não gozam os políticos de melhor opinião. Um poeta pode ser mau, medíocre, vulgar… mas sempre lhe restará a nobreza da palavra.

- Deve salvar uma voz viva, a qual atira a bóia?

- Nenhuma voz viva necessita que a salvem. Basta-lhe que lhe permitam fazer-se ouvir.

- Três motivos que não lhe deixem abandonar a palavra.

- Só um: a poesia é uma enfermidade incurável e devastadora. Acabará matando-me, é verdade, mas também me mataria o tentar deixá-la.

- Por que a sua obra não está no lugar que merece?

- Talvez porque os caixotes de lixo são excessivamente domésticos…



Domingo F. Faílde – Entrevistado
Dolors Alberola – Entrevistadora
Tradução ao português: Tania Alegria
Em Jerez a 24 de Junho de 2012


*****

Entrevista a Domingo F. Faílde realizada por Dolors Alberola (24/06/2012)


Siempre estamos acostumbrados a hablar con los poetas de temas similares, por lo que hoy propongo preguntarle a Domingo F. Faílde, poeta y crítico literario, algunos detalles que intentan no reincidir en la costumbre:

-Tres razones por las que no debiera haber escrito nunca.

-Tres o tres mil. La primera: quien se arroja al abismo de la drogadicción se convierte en su esclavo. La segunda: navegar por el magma de la poesía es viajar al infierno para quedarse en él. La tercera: a quien los dioses quieren perder, primero lo vuelven loco, según dicen que dijo Eurípides. En cualquier caso, como mi buen amigo Faelo Poullet, me quedo con aquella canción de Edith Piaf, non, je ne regrette rien, no me arrepiento de nada.

-¿De qué libro se arrepiente más, examinando toda su obra?

-Después de lo que dije anteriormente, no puedo arrepentirme de ninguno, pero no tengo inconveniente en señalar el que menos me gusta: Cinco cantos a Himilce, a pesar de que un grupo de teatro, Mamadou, hizo con él un magnífico montaje escénico. Tengo la sensación de que ese libro me nació a traición y sigue todavía traicionándome. Peor para él…

-Cuéntenos abiertamente el principal motivo para presentarse a concurso y la duda más grande al respecto.

-La ingenuidad congénita, que algunos padecemos. Presentarse a un concurso era una forma relativamente cómoda y rentable de conseguir la publicación de una obra. No negaré que siempre hubo problemas –amiguismo, intercambio de favores-, pero, en esta última década, la corrupción del país y la aberrante sustitución del concepto de cultura por el de industria cultural han convertido premios y concursos en un espacio podrido donde editores y agentes literarios pugnan por la financiación de una obra con fondos públicos –los primeros- o por la comisión correspondiente –los segundos-, contando con la complicidad de jurados de confianza y otras prácticas mafiosas. El camino de los premios está ocluido, salvatis salvandi. El maldito sistema capitalista ha puesto contra las cuerdas a la literatura como tal.

-¿Le mereció la pena nacer poeta?

-Yo formularía esta pregunta de otra manera: ¿le mereció la pena nacer? Porque nacer poeta no es, en el fondo, muy diferente de nacer cocinero o agricultor, más allá de la polémica sobre si nace o se hace el poeta. La vida es un absurdo y el universo una hermosa –a simple vista- chapuza. Nos vendieron la falsa idea de un cosmos matemático y perfecto, pero sabemos que un pedrusco del tamaño de un parking puede acabar con la humanidad. Nos vendieron la idea de una vida sagrada e intocable, pero sabemos que quienes la predican en nombre de un supuesto Creador son los primeros en matar a los disidentes. ¿Y qué sentido tiene todo esto? ¿La vaga e improbada promesa de un premio infantil y aburrido? A nadie se le ocurre crear una cosa para luego, sin más, destruirla. La nada es el final y para eso bien pudiéramos evitarnos el esfuerzo y el sufrimiento de vivir.

-Le doy un borrador para que sin vergüenza alguna nos borre de un plumazo a un escritor actual.

-A lo largo de medio siglo consagrado a la literatura, también como crítico, no he borrado jamás ningún nombre, aunque sí he criticado perfiles concretos. Nunca tuve madera de inquisidor ni de comisario político: a éstos, sí, los borraba sin ningún miramiento, porque son nefastos, y haría lo mismo con quienes se vendieron y nos vendieron al poder, los escritores mediáticos, los oportunistas, los que cambian de chaqueta, los que se construyen un búnker con los derechos de autor, los manipuladores, los fanáticos, los que usan el sexo como moneda de cambio… ¡una buena limpieza haría falta! El nombre del oprobio es lo de menos.

-Fácil o difícil cambiar de sexo en la palabra.

-Cada uno tiene el sexo con que ha nacido o el que quiere tener. El hombre –hablo del ser humano, en toda su extensión- es el único animal que puede elegir en conciencia e incluso enfrentarse a la naturaleza y ganarle la partida. ¿Influye el sexo en la literatura? Imagino que sí, pero influyen sobre todo las condiciones materiales de existencia derivadas de la propia condición sexual. Dicho esto como premisa, no escribimos con la entrepierna sino, en el sentido más amplio, con la inteligencia.

-Similitudes que encuentre entre un político y un poeta mediocre.

-Ninguna, absolutamente ninguna, a no ser que el poeta, además de mediocre, sea un perfecto sinvergüenza, un potencial ladrón, un individuo venal y carente de escrúpulos, dispuesto incluso a llegar al asesinato. Hoy por hoy, no gozan los políticos de mejor opinión. Un poeta puede ser malo, mediocre, vulgar… pero siempre le quedará la nobleza de la palabra.

-Debe salvar una voz viva, ¿a cuál le echa el flotador?

-Ninguna voz viva necesita que la salven. Le basta con que la dejen hacerse oír.

-Tres motivos que no le dejen abandonar la palabra.

-Sólo uno: la poesía es una enfermedad incurable y devastadora. Acabará matándome, es verdad, pero también me mataría si intentara dejarla.

-Por qué su obra no está en el lugar que merece.

-Tal vez porque los cubos de basura son excesivamente domésticos…


Domingo F. Faílde - Entrevistado
Dolors Alberola - Entrevistadora
En Jerez a 24 de Junio de 2012